Imaginem uma vida em sentido contrário, como que imitando o relógio que anda para trás. Alguém que cresce no meio de quem espera a morte e, anos mais tarde, envelhece no meio de quem cresce cheio de sonhos e expectativas de vida. Dito assim parece simples, ainda que estranho, o caso de Benjamin Button. E há tanto para dizer e saborear nesta fábula sobre a vida, sobre o amor e sobre a importância das pessoas que nos povoam a existência.
Para alguém com uma certa nostalgia em relação ao futuro, como eu, tudo isto bate forte naquela zona que nos deixa a pensar. A velhice, a força que é necessária para mudar de vida e ao mesmo tempo é só dar um passo, ver partir as pessoas de quem gostamos, os ensinamentos que recolhemos e, principalmente, como a vida é feita de pequenos acasos que todos juntos nos aproximam ou dão origem a pequenos desastres... É muito já sei. Mas não me recordo de ver um filme que me levasse a pensar em tanta coisa diferente. Um filme que, ao chegar a meio, já me tivesse feito esquecer as questões do início e me tenha já a divagar por outras questões tão absorventes.
Este novo encontro no grande ecrán entre Brad Pitt e David Fincher não podia ser mais diferente dos anteriores e, ao mesmo tempo, tão bom como o que ficou para trás. Os diálogos e a narração são excelentes. Está lá apenas o suficiente, as imagens contam o resto. E depois há ideias tão fortes como: nunca é tarde para ter a vida que queremos, nem para recomeçar tudo de novo; nada dura para sempre, nem mesmo as coisas de que gostamos e isso é uma pena; todos os dias deus insite em mostrar a sorte que é estar vivo, isto para quem já foi atingido sete vezes por um raio (o filme só mostra cinco)...
Grande trabalho de caracterização. Quase todas as personganes principais são envelhecidas ou juvenescidas conforme as necessidades. Preparem-se para conhecer o Brad Pitt e a Cate Blanchett dos vossos netos mas também para os recordar como eram na adolescência, na nossa e na deles. O senhor Pitt mostra, se dúvidas havia, o actor multifacetado que é - de James Dean a acelerar pelas estradas, a velho sedutor e simpático, até de bebé ele sabe fazer. Fui só eu que reparei na combinação explosiva que ele conseguiu de velho de corpo retorcido a tentar mexer-se com o ar de criança repreendida por ter feito asneiras?
Não deixei de perceber a quantidade de ideias já vistas em tantos filmes, como a história contada por alguém no leito da morte, o amor que insiste em não se tornar possível, o ter de deixar tudo pelo bem de quem se ama... Está aqui tudo e, ainda assim, não deixamos de nos envolver. Afinal, é destes ingredientes que se faz uma boa história. Por falar na história, fiquei com curiosidade de pegar no conto homónio de F. Scott Fitzgerald. Irónico o facto de, sendo um conto, o filme ser uma grande grande metragem: quase 3 horas. Falo nisto porque é melhor preparem-se para uma certa sensação de desconforto aí depois das duas horas de fita e, se tiverem azar, vão levar com os menos pacientes a bufar e fazer piadas em voz alta para o descontentamento dar nas vistas. Confesso que menos 20 minutos e não fazia mal nenhum, até porque me parece que o final do filme já não interessa muito para a mensagem e o tom do filme. Só talvez pela "brincadeira" das águas soltas pelo furacão a afogarem o relógio do tempo (depois de verem percebem).
Já agora, deixo aqui para aqueles que tiverem paciência para investir 50 minutos numa entrevista do realizador David Fincher e do actor Brad Pitt.
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