Invadia-o uma certa sensação do ridículo, um sentimento contra o qual lutara toda a vida. O seu complicado código genético já trazia nele impresso essa luta, mas ao longo dos anos aperfeiçoara-o para identificar o momento, antecipá-lo, fazer soar o alarme... Era como se a sua pessoa chegasse ao fim de cada vez que o ridículo lhe batia à porta e lhe fazia agitar todos os poros de irritação consigo próprio, de estupidez por se ter deixado chegar ali. Evitá-lo passou a ser o seu objectivo número um, passou a ser aquilo em que era realmente bom. Com o tempo, passou a ser cada vez mais fácil.
Era, por isso, sem estranheza que sentia agora soar todos os alarmes do seu corpo. Ainda não lhe tinha chegado perto, mas já o antevia. Aquele momento em que deixava de estar confortável, o momento em que sabia que iria ser aquilo que não queria: ridículo. Estava ali, ao virar da esquina. Bastava um passo em frente e não haveria volta.
Olha quem aparecia agora: o conflito, a indecisão. "Mas qual indecisão?" - pensou. Não havia indecisão possível. Não se podia sujeitar àquele momento. Não o podia permitir. Fugir era a resposta. Tinha de fugir. Sair dali e deixar o ridículo para trás.
Saiu.
1 comentários:
É triste...
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