Atropelei o Calimero

É a ilusão, estúpido!

sexta-feira, 15 de junho de 2012 by ocondutor | 0 comentários
imagem: CM Lisboa

Na República do faz de conta, o senhor sai à rua e o povo pára de viver para assistir ao desfile, estender a passadeira e ajuda a compor o cenário. Que bonito é o povo - este povo magnifico e dedicado - quando cumpre o seu nobre papel de amém, ainda que não perceba que é isso que está a fazer. Não queremos o povo das perguntas e dos cartazes, não... Esse povo é para andar sozinho. Talvez possa desfilar, mas com açaime policial e em alturas específicas e nada festivas.

Que bonito é o senhor a distribuir sorrisos e conhecer a "verdadeira realidade" - repito "verdadeira" para enfatizar a ironia - daquelas gentes que se passeiam na rua e o observam de perto. Coitados, não lhes chega as fotografias dos jornais e as imagens da tv... Querem ver de perto as rugas do seu senhor, tê-lo ali à mão de semear a escassos 2 passos da porta de casa. Outros, porque coitados mal conseguem sair de casa - pelo fraco físico associado à fraca escadaria - olham-no da janela ajudando, sem querer, a dar ainda mais magnanimidade ao espectáculo de variedades montado para as tv's. Ele são as obras a todos o vapor até altas horas de madrugada, os raminhos e flores e decorações e faixas penduradas à última da hora - é suposto que pareça que ali não há problemas, ali está-se sempre em festa -, a fadista que surge [ler com ironia] cantando como faz todos os dias naquele lugar, ele são os edifícios pintados de véspera e de madrugada e nessa mesma manhã e escassas duas horas antes da vinda do senhor, os grafities arrancados de propósito para que tudo pareça impecável. Pena é que a câmara não fuja do enquadramento e aponte focada acima do 2º andar...

Na República do faz de conta, há quem se encarregue de evitar (esconder também poderia ser a palavra) que, tal como na história, um petiz imune possa exclamar: o rei vai nu! Podia ser que alguém raspasse a tinta fresca revelando os tijolos escondidos, o bolor do edifício mal isolado e, empurrando a porta do prédio, a máscara de cartão revelasse o interior decadente a necessitar de obras.

texto escrito por ocasião das comemorações do 10 de Junho e
da passagem da comitiva pelo Mouraria no dia 9 de Junho e
só agora publicado

política, vida
Share |

0 comentários:

Enviar um comentário

Subscrever: Enviar feedback (Atom)

do que se fala

música (179) cine (128) vida (127) bizarrices (125) net (72) agenda (51) geek (49) tv (42) política (40) séries (33) sport (29) Rua (11) arte (11) covermero (8) tec (7) jornais (5) livros (5) obama (5) podcast (4) bd (3) rádio (3) mags (2) comer (1) mac (1) pub (1)

o que se falou

Com tecnologia do Blogger.
Licença Creative Commons
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported
Copyright © 2010 Atropelei o Calimero Wordpress Theme ocondutor from Blogger Template Credits