"La science des rêves" de Michel Gondry 2006 |
Tinha acabado de acordar, se é que se pode chamar acordar àquele estado semi-sonolento das manhãs longas de fim-de-semana. Aquelas sem preocupações que deixam espaço para recusar o simples acto de descolar as pestanas uma da outra. Naquele dia tinha ainda mais razões para se manter de olhos fechados e forçar com toda a sua vontade o regresso do sono e deixar de controlar aquela história que lhe estava a sair tão bem.
Odiava acordar precisamente no ponto decisivo, no momento em que recebia a notícia capaz de lhe mudar a vida, no momento em que se preparava para descobrir a resposta àquela pergunta que parecia que o tinha ocupado a noite toda, no momento a coisa fazia, finalmente, sentido... Mas, o que mais odiava era acordar com a consciência daquilo que estava para trás e, ainda naquele limbo, ser capaz de produzir as imagens necessárias a poder ver, como num sonho, fins diversos, momentos alternativos, voltar atrás, corrigir pormenores... Ao contrário das parvoíces que já lhe tinham dito sobre como era magnifico poder escolher, deixava-se sempre sucumbir pela certeza de que era batota, que nunca iria saber o desfecho verdadeiro que o seu subconsciente lhe exibia e que, agora, a razão matava para sempre.
Por fim, decidiu abrir os olhos e enfiar a cabeça debaixo da torneira atirando para o caixote do lixo dos sonhos aquele que tanta luta lhe tinha dado, e que no centro de distribuição dos sonhos tinha ficado definido que só teria direito a meia dúzia por ano.
0 comentários:
Enviar um comentário