imagem: eneko, vinhetista do jornal espanhol 20minutos.es |
Nos dias que correm andamos todos com a cabeça nas contas - nas nossas e nas deles poderosos governantes e demais ajudantes - à procura dos pequenos cêntimos a mais que se podem tornar em gastos a menos. Nunca tive tantos almoços, pequenos-almoços, jantares, pausas para o café, encontros ao acaso que de forma instantânea se transformam em fórum de discussão, em gritos de revolta, em diagnósticos mais ou menos profundos. Tanta raiva a precisar de direcção, tanta boa vontade que vai acabar no sítio do costume: cada um a tratar da sua vidinha à procura dos trocos para compensar os muitos euros a mais que o glutão Estado nos vai limpar todos os meses. Para um país de deixa andar é capaz de não ser mau ver as pessoas preocupadas e a fazer contas antes, pode-nos fazer bem.
Não se pense, contudo, que aqui se aceita o discurso do HABITUEM-SE. Não vamos continuar a alimentar o monstro. O monstro que emagreça, mas não à custa de cortar do que vai parar ao prato dos outros, nos medicamentos que fazem falta a quem não os pode comprar, nas coisas que se ensinam às novas gerações, no justo pagamento pelo trabalho de quem realmente trabalha e faz o que uns certos encostados deixam para os outros fazerem. Quem é gordo não emagrece com mais comida, fecha a boca.
Não nos venham com conversas de que andamos a viver motivados pela nossa ambição de grandeza. Primeiro: querer viver melhor é legitimo para todos e não é uma coisa exclusiva vossa, meus senhores. Segundo: se nos convenceram que podíamos ter casa, carro, o último grito da moda, maquinetas que nos afastem dos tanques públicos e que podíamos pagar no fim do mês é porque isso vos dava jeito e vos fazia ganhar dinheiro. Senhores banqueiros: estamos de olho em vocês.
Como diz essa bela frase que gosto de usar até à nausea: ou há moralidade ou comem todos. Não nos irritem e não nos façam de parvos, não mostrem só o que querem e não se façam de anjinhos. Querem terrorismo? Olhem que nós também sabemos fazer terrorismo. Por enquanto pode ser só terrorismo de café, mas a coisa pode mudar, olhem que muda. Com o nosso mal vivem vocês bem, isso já nós sabemos, mas começamos a viver muito mal com o vosso bem.
Entretanto, é divertido andar pela internet - entre blogues e jornais - e encontrar tantos, mas tantos exemplos de gastos a mais, de gente bem falante e moralista que dá conselhos ao povinho quando lhes anda a comer a medula pela calada. Bem prega frei Tomás... Coragem é decepar-lhes a bazófia, ouviu senhor primeiro ministro?
Se querem que vos diga, tudo isto e aquela coisa do Orçamento de Estado de 2012, é a mãe de todas as desculpas para as privatizações que as hienas do costume já salivam para conseguir. Qualquer dia ainda nos convencem que é giro meter-lhes as reformas nas mãos para brincarem mais um pouco ao monopólio. Espera lá, onde é que eu já ouvi isto?
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