imagem: de colheita própria |
A cada dia que passa...
De cada vez que me vejo...
Sempre que reparo em mim impresso no espelho...
...me vejo mais parecido com o meu pai.
É o rosto que assume as formas já conhecidas. São as rugas que se gravam - ora mais profundas, ora mais à flor da pele - seguindo um padrão que me habituei a admirar com o passar dos anos. É o nariz imperfeito, com personalidade... Mas são, sobretudo, as mãos.
As mãos que, à parte dos calos e das marcas do trabalho pesado de anos, são
iguais. Quando digo iguais, não quero dizer idênticas... quero dizer iguaizinhas, decalcadas, fundidas seguindo o mesmo molde... cada dobra entre falanges, falanginhas e
falangetas não deixa margem para dúvida. E, sabe bem. Contudo, não são, as minhas, tão ásperas e rugosas. Não exibem, as minhas, as marcas das muitas vezes que incharam e se abriram pela força do trabalho. E não o sendo, as minhas, é pela
dádiva desse pai que se agarrou, com o dobro das forças, à labuta diária para dar espaço e oportunidade a que, as minhas, fossem chamadas a ganhar a vida com gestos menos esforçados.
Ser-se
filho é ser-se injusto. Ser-se pai é ser-se injustiçado. É assim: crescemos,
saímos, mudamos, deixamos de ser deles e não mais podemos "compensar" o
tanto que foram para nós. Será, talvez, igual comigo. E assim sendo, o equilíbrio do cosmos, garantidamente, manter-se-á constante e intacto. E tudo correrá bem.
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